Riscos ambientais dos efluentes ricos em AOX.

Riscos ambientais dos efluentes ricos em AOX.

De Acqua Expert – Em 20 de março de 2023

Algumas indústrias liberam em seus efluentes uma grande concentração de AOX e isso tem elevado o nível de preocupação de pesquisadores do mundo todo, que buscam remediar os danos causados pela introdução destes compostos no ambiente.

 E você, sabe o que é AOX?

O AOX, do inglês, “Adsorbable Organic Halides’’ que significa: compostos orgânicos halogenados adsorvíveis, consiste na medida de todos os compostos orgânicos formados por haletos, do grupo 17 na tabela periódica (Apesar disso, o Flúor não é incluso nessa medida, devido à reação diferente dos demais haletos).

Esses compostos são altamente poluentes e sua acumulação na biota pode causar mutações, inibir enzimas e até serem cancerígenos. Havendo sido encontrados, juntos de seus intermédios, em diversos tecidos animais como: gordura de ursos polares, ovos de aves marinhas, sangue de baleias e também no leite materno humano. Por conta dos riscos que eles apresentam ao meio ambiente, a regulamentação sobre seu lançamento é estritamente exigente e tende a tornar-se cada vez mais rigorosa.

Essa questão traz à tona a necessidade de metodologias para a remoção dos AOX dos efluentes, que mais comumente possuem altas concentrações em plantas que tratam água advinda da indústria do papel e celulose (destaca-se que o processo de branqueamento da polpa é mais significantemente poluente) e têxtil, porém, também são encontrados em petrolíferas, fabricantes de inseticidas ou herbicidas, e até mesmo em efluentes domésticos.

O AOX é cobrado nas legislações ambientais?

No que diz respeito à legislação, as informações são bem pouco difundidas. No Brasil, não temos um padrão para a liberação de AOX através do descarte de efluentes em corpos d’água. Não obstante, alguns locais possuem uma padronização geral integrada para efluentes descartados, sendo eles: Alemanha (1987) com 0,1 mg/L; França (1998) com 1 mg/L e China (1996) com 1, 5 e 8 mg/L (dependendo de uma classificação interna).

Para a indústria de celulose e papel, notoriamente a indústria que mais libera compostos AOX, os padrões são melhores estabelecidos: União Europeia (2001) com 0,25 kg/t; Suécia (2000) com 0,3 kg/t; Canadá (2003) com 0,8 kg/t; Índia (2003) com 1,0 kg/t; e China (2008) com 0,6 kg/t. No Brasil, algumas indústrias de celulose possuem limites de lançamento estabelecidos em suas outorgas ambientais e os valores variam entre 3,0 mg/l e 6,0 mg/L.

O tratamento para remoção de AOX do efluente pode ser realizado de algumas formas, sendo elas: degradação biológica (ou bioquímica), física ou química.

Os tratamentos biológicos consistem no uso de agentes biológicos para a remoção do poluente, com esses agentes podendo ser: bactérias ou fungos que façam desalogenação, ou enzimas como xilanases e lacases. Embora não sejam tão eficientes na remoção de AOX como outros tratamentos, as tecnologias de remoção biológicas são usadas em larga escala por conta de vantagens no custo e na maturidade tecnológica. Algumas das tecnologias empregadas incluídas nessa classificação são: Sistema de Lodos Ativados, Reator de batelada sequencial, Reator de leito fluidizado, Bacia de estabilização aeróbica, Bacia de estabilização facultativa, Digestão anaeróbia e Lagoa aerada

Já os físicos, que possuem eficiência maior que métodos biológicos, consistem na adsorção, coagulação e floculação desses compostos. São dois os principais métodos utilizados nessa modalidade: Adsorção, utilizando carvão ativado em forma granular ou em pó e também coque de petróleo ou cinzas volantes, e Precipitação, utilizando polímeros ou sais de Ferro ou Alumínio;  

Finalmente, os tratamentos químicos, como o nome sugere, consiste no uso de produtos químicos para a oxidação dos AOX. Chamados Processos Oxidativos Avançados (POA’s), são métodos altamente eficientes especialmente na remoção de AOX com estruturas moleculares complexas. Apresentam uma boa alternativa quando somente métodos biológicos não são suficientes para remoção satisfatória de AOX. Neles, estão inseridos métodos baseados ou no uso de peróxido de hidrogênio (H2O2) ou no uso de ozônio (O3)

Conclusões…

            Em suma, AOX compreende um índice numérico que mensura a presença de compostos orgânicos halogenados em um efluente. É importante destacar que esses compostos, assim como qualquer outro, não são necessariamente danosos em sua presença, sendo utilizados como reguladores bioquímicos em alguns insetos, porém, seu excesso decorrente da atividade antrópica é, sem dúvidas, danoso para todo o ecossistema.

– Para evidenciar a importância de todas as espécies químicas, é valioso citar as bactérias que praticam a dealorespiração, isto é, que utilizam os compostos halogenados como aceptores de elétrons no processo de respiração anaeróbia. Processo feito eliminando os átomos de haletos dos compostos halogenados através da desalogenação redutiva. Dessa forma, o microrganismo se beneficia com a utilização dos compostos halogenados enquanto degrada os compostos AOX, sendo útil no processo de remediação de um problema de excesso.   

Os processos industriais de celulose, em especial, são significativos produtores de AOX, e, juntos da tendência de uma legislação cada vez mais exigente, geram a necessidade de avanços tecnológicos na remoção eficiente destes compostos, para isso, são necessários investimentos na pesquisa de como são gerados os AOX e como remediar sua presença excessiva.

Referências Bibliográficas

XU, Ranyun et al. Adsorbable organic halogens in contaminated water environment: A review of sources and removal technologies. Journal of Cleaner Production, [S. l.], v. 283, 10 fev. 2021

FUTAGAMI, Taiki et al. Biochemical and genetic bases of dehalorespiration. The Chemical Record, [S. l.], v. 8, p. 1-12, 26 fev. 2008.

MOHN, William; TIEDJE, James. Microbial Reductive Dehalogenation. Microbiological Reviews, [S. l.], v. 56, n. 3, p. 482-507, set. 1992. CHAPARRO, Adela. Tratamento de efluentes de branqueamento de polpa celulósica em reator anaeróbio seguido de processo oxidativo avançado. Orientador: Eduardo Cleto Pires. 2010. 248 p. Tese (Doutor em Ciências —Engenharia hidráulica e Saneamento.) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, [S. l.], 2010.

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